sexta-feira, março 04, 2016

as portas largas da casa de madeira estavam todas abertas permitindo que o ar fresco daquela manhã de "sabe-se lá que mês, ano ou dia" entrasse e percorresse os corredores vazios da minha morada.
nos fundos dessa casa eu aguardava sentada, em um degrau que dava para o nada. que dava para o fim. 
mas tinha um pequenino lago ali, e eu lhe aguardava olhando aquela água imóvel. 
como eu.
a música que em um mês de maio você escreveu pra mim tocava, mas somente nos meus ouvidos e lembranças.

vinhas de longe, por minha própria culpa partiu.
e agora com teu retorno anunciado pela luz da manhã daquele dia, eu lhe esperaria.
e já havia preparado tudo para que muito bem recebido fosse, e jamais partisse.
mesmo sabendo que sua estadia por aqui, pelos corredores e quartos e cômodos e camas seria breve pois eu já não brilhava mais.

relevando tudo isso, levantando a cabeça sozinha naquela casa vazia e escutando uma música que apenas eu ouvia, deixei que as boas energias da natureza ao redor entrassem para dentro desse lar que eu queria que tu morasse.
o sol, as folhas das árvores, o cheiro do mato, o gosto terroso da fruta retirada direto do pé. as flores, o lago, a terra úmida, o perfume que a chuva mansa que caiu na madrugada deixara nesse ambiente...
os elementos preparados para sua recepção.
fiz o que pude.
então me vesti com aquele vestido amarelo e flor.
deixei que o cabelo fino e liso secasse e se penteasse sozinho ao vento.
sai nessa manhã descalça após um banho quente e ali fiquei.
somente a esperar.


era tarde.
esperei esperei esperei
e você não vinha.
esperei que me buscasse para que juntos fossemos embora.
mas por ali permaneci, e o teu rosto eu jamais voltei a ver.

sentada naquele degrau que dava para o nada mais infinito que já vira, eu deixei que o vento trancasse as janelas e as portas. que a escuridão percorresse os corredores e destruísse tudo de luz que havia dentro desse lugar.
nenhum sopro, nenhum lampião
nenhuma esperança ou espera.

deixei-me a sós nesse lugar, esperando que a nova vida que brotava por entre as árvores, que  brotava de dentro de mim, voltasse a me fazer sorrir. um dia.

quinta-feira, janeiro 28, 2016

nele - você

havia estrelas brilhando no corpo inteiro quando te abracei.
percebi a brisa do vento passar por seus olhos, e senti o balanço do mar dentro de você.
quis ficar ali por horas. 
permanecer.
morar.
viver.
ouvindo o som da maré forte quebrar contra meu corpo.
quis criar raízes, estar junto, ser isso por inteiro.

o sol esquenta minhas costas, meus pés estão livres de amarras. 
não há mais nada que ninguém possa dizer que eu já não tenha pensado e, de fato, já foi descartado.

o som da sua presença é a música que mais gosto de ouvir.
quero continuar aqui,
onde o mar habita em você, e eu habito nele - você.



sexta-feira, janeiro 22, 2016

sábado, janeiro 16, 2016

primeiros parágrafos

como se fosse o mar. infinito e profundo. calmo. vazio em sua superfície.
mantinha os olhos fechados, o corpo inerte. eu era o mar e toda a imensidão. 
concentrei-me em ser, apenas. e isso aliviava minha mente. 
por algum momento eu deixei de ser uma pessoa e virei mar.
~
planava no ar a cada passo dado. uma força sutil me levantava do chão cuidadosamente, de maneira maternal.
a rua de areia, escaldante pela ação do sol, não feria meus pequenos pés infantis.
e assim eu conseguia aliviar tudo o que pairava sobre minha cabeça.
focava no surreal e para lá me transportava...
...onde quer que eu estivesse,

eu poderia estar em qualquer outro lugar...


segunda-feira, novembro 04, 2013

um ano e voilà!

Demorei muito para voltar. Passei quase um ano fora. Estive em lugares que nunca quis estar, e não sei bem a razão de ter ido por estes caminhos que no fim não levaram a nada. Vai ver é isso que nos faz enxergar o quanto nossas vidas eram completas, e que viver era demasiado simples,
mas nós adoramos complicar.
 Vitimar, sofrer, cair e ficar.

perdi a noção do tempo dentro de mim,
 e demorei muito para conseguir sair de lá.

No principio eu já acreditava que estava perdida, que estava longe. Mas a realidade era outra. Creio que no período de minha loucura nunca estive tão conectada ao que realmente sou. Mas o estranho é que me sinto bem em saber que já não sou mais aquilo que eu era há uns anos atrás.

E na transição da loucura para a normalidade, eu me perdi novamente na busca de uma solução para todo o sofrimento que viera anteriormente. E acho que foi ai que um ano passou e eu nem vi, eu nem sorri. O diagnostico premeditado tomou conta de mim e eu deixei de viver a realidade. Eu me tranquei.

E agora sinto a liberdade entrando pela janela, nos dias de chuva e de sol. E apesar da pressão cair com certa frequência, da cabeça balançar e latejar num ritmo estranho e o mundo sob meus pés desaparecer, posso dizer que voltar a vida - a minha vida- é simplesmente maravilhoso. É sublime. É como encontrar alguém que você goste muito e que sabe-se lá por qual razão deixou de ver durante um ano inteiro.

Eu gosto do que sinto...
Eu gosto do que sinto quando vejo que voltei.








segunda-feira, outubro 28, 2013

terapia.

mas ah,
pediram que eu buscasse a resposta no amago do meu espirito. pediram que eu resolvesse minha vida, como se me pedissem um café, como se me pedissem um abraço.
e olha,
acharam que tudo seria assim, tão fácil. e eu abri a boca, e solucei diante do embaraço, diante do doutor que apenas escrevia no prontuário.
soluçando, não conseguindo mais concluir uma frase. tudo saia e soava desesperado e sem nexo. não me admira que ele somente escrevesse enquanto eu falava de coisas que jamais lhe foram mencionadas.
nós nunca saberemos o que se passa na cabeça de um médico psiquiatra plantonista do sus. taí. o grande mistério de tudo e uma coisa que muito me irrita.
me dê os remédios e vá para seu horário de almoço.
não.
"paciente necessita de terapia."

segunda-feira, setembro 23, 2013

porque o dia se foi.

 Com que pretensão levantamos custosamente de nossas camas em dias como esse de segunda-feira nublada, fria e chuvosa, ás 7 horas da manhã, após ter chorado desesperadamente a noite inteira e tendo que lidar consigo mesmo dentro da mente?

 Com que pretensão pessoas como você e eu continuam tentando se enquadrar nessa paisagem distópica?

e estou indo. me esvaindo. subindo na atmosfera. evaporando.